quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A HORA DA ESCOLHA

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A HORA DA ESCOLHA

A campanha eleitoral do PSDB e das elites conservadoras neste ano traz características surpreendentes, porque consideradas
superadas há muito tempo. É um renascer conservador que usa de todos os métodos, manipula, distorce, falseia, na tentativa de seduzir o eleitor sem dizer a que veio sem apresentar sequer um programa de governo.



Temas como a crença em Deus, o aborto, a liberdade de imprensa, a corrupção, dominam a agenda eleitoral e, em si, já demonstram que não é o futuro do Brasil que os preocupamas desclassificar e derrotar seus adversários por quaisquer meios. E é tal a manipulação que, neste momento eleitoral, apresentam estes temas como se fossem da alçada de decisões da Presidência da República, o que não é verdade.


A separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios que funda o Estado moderno, que também é assegurada na Constituição de 1988 e em todos os países ocidentais. Crer ou não em Deus, ter ou não uma religião, são temas da vida privada, de foro pessoale assim devem continuar para garantir o respeito à diversidade e pluralidade culturais, fundamentos da democracia e da pazou voltaremos aos tempos das inquisições e da fogueira para sacrificar os hereges.


A descriminalização do aborto não é uma “política para matar criancinhas”, como declara solertemente a oposição. É uma questão de saúde pública que se propõe para evitar a morte de milhares de mulheres,condenadas a enormes riscos ao realizarem seus abortos de forma precária e clandestina, sem qualquer apoio do poder público. E é importante frisar que também aqui, neste caso, a decisão por adotar estas políticas não é da Presidência da República, mas sim do Congresso Nacional. 

A questão da corrupção, ela sempre esteve presente na política brasileira, na democracia das elites, que se servem deste expediente na defesa de
interesses privados, afrontando a dimensão pública e o interesse
coletivo. Se é verdade que os expedientes do “dá lá, toma cá”,
estão presentes também no atual governo, o que é lamentável e demanda
uma reforma política para instituir controles democráticos efetivos
sobre Executivo, Legislativo e Judiciário, não
dá para o PSDB posar de vestal, basta lembrar as denúncias da compra de
votos que permitiram a FHC modificar a Constituição e ter seu segundo
mandato.

Esta agenda eleitoral, fundamentalista e despolitizadaque não trata das questões que importam para o futuro do país, só ganhou importância pelo destaque que a mídia lhe deu – TVs e jornais – que atuaram de maneira
articulada, impondo sua versão dos fatos e tentando transformá-la
 em realidade. Nunca é demais lembrar que uma
das questões centrais da democratização de nosso país é retirar do
controle de apenas 9 famílias estes meios de comunicação. A tão propalada ameaça à liberdade de imprensa
nada mais é que a defesa deste oligopólio, que por sua vez representa o
conservadorismo, agora mais radical neste fim de campanha eleitoral.

Assistimos a um deslocamento ideológico onde o PSDB passa a ocupar o lugar do DEM, e o PT o lugar do PSDB.Esta situação abriu um espaço à esquerda no espectro político. Se
Marina tivesse se aliado aos pequenos partidos à esquerda, que nasceram
como dissidências do PT, poderíamos ter tido uma opção eleitoral à
esquerda, mas este não foi o caso, como se pode ver com o alinhamento informal do PV à candidatura do PSDB. Marina paga agora o preço de sua ingenuidade.
A verdade é que as candidaturas se dobraram à lógica das pesquisas eleitorais e
das estratégias de marketing. Falam o que o eleitor quer ouvir. Prometem
como sempre prometeram, a cada eleição. O importante nas condições atuais é construir critérios para avaliar as opções. E um deles pode ser o de comparar os governos que estes dois partidos realizaram e avaliar não só o quanto cumprem de suas promessas, mas o que fizeram pelo povo brasileiro.

Embora eles não estejam enunciados com clareza, existem dois projetos para o Brasil em disputaO do PT é a continuidade de um processo de crescer favorecendo as grandes
empresas nacionais e redistribuindo alguma (pouca) riqueza, permitindo a
inclusão dos mais pobres. É a isso que se chama social democracia, uma antiga bandeira do PSDB. Já o projeto do PSDB é radical no sentido de favorecer o livre mercado, como se estivéssemos nos anos 90... E o livre mercado não tem nenhum projeto de desenvolvimento autônomo para o Brasil e nem se preocupa com o interesse público. Não é preciso dizer queesta opção só favorece as elites tradicionais, que se transformam em sócias menores do capital internacional, quando o fazem. Nesse caso, nossas riquezas irão beneficiar outros senhores e a desigualdade aumentará.

Mas, mesmo com estas condições que deixam tanto a desejar, temos que fazer uma escolha. Para muitos não será uma escolha pela sua identidade pessoal com um projeto político. Terá de ser uma avaliação em função das opções concretas. Falo especialmente para os que votaram em Marina no primeiro turno, para os que anularam o voto, para os que se abstiveram. 
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Silvio Caccia Bava




Diretor e Editor Chefe